Crítica cinematográfica: Sun of God (O Filho de Deus) 2014

Fui ontem ver a antestreia do filme Sun of God (O Filho de Deus) de Christopher Spencer.

Sabia pouco sobre o filme, para além de que se tratava de uma versão condensada da produção para televisão do canal História e que contava com o Diogo Morgado no papel de Jesus.

Talvez a minha curiosidade se pautasse pelo Diogo e porque, apesar da história de Jesus não ser propriamente inovadora, o último filme sobre a vida de Jesus foi produzido há precisamente 10 anos – o famoso The Passion of Christ (A Paixão de Cristo) de Mel Gibson. Na altura, este filme causou muita polémica devido ao excesso de violência (gratuita?).

Contudo, na minha opinião, aquilo que foi realmente interessante em The Passion of Christ foi a tentativa de aproximação da realidade, como a escolha das falas em Aramaico e em Latim e o rompimento com uma imagem idolatrada e disparatada de um Jesus loiro de olhos azuis (conseguida, também, com a ajuda de filmes anteriores).

Infelizmente, essa ideia quase idolatrada de Jesus, voltou agora. Houve várias coisas que me fizeram confusão neste filme. Primeiro, o facto de não existir uma história nova para contar, uma perspectiva nova das personagens, um fio condutor… E depois, é sempre esquisito ouvir aquele sotaque britânico de algumas personagens.

A Crítica que mais gostei de ler e que faz um  match perfeito com a sensação com que fiquei do filme foi escrita pelo Luís Miguel Oliveira no Ípsilon do Público:

Sem sentido de estrutura ou de dramaturgia, [o Filho de Deus] limita-se a atirar umas figuras para a paisagem e a ilustrar uma espécie de greatest hits da Bíblia, saltando de episódio célebre em episódio célebre, sempre sem contexto, sem olhar, sem construção. Sem crítica, também, no sentido em que não propõe nenhum pensamento sobre as personagens e as histórias, tal como remove cuidadosamente o pensamento de Jesus Cristo, reduzido ao estereotipo do milagreiro espectacular.

O Filho de Deus é tão mau que põe tudo numa perspectiva nova: ao pé dele, até Gibson é parecido com DeMille, até Zeffirelli é parecido com Oliveira – pois ao menos tinham alguma ideia, minimamente pessoal, sobre o que estavam a filmar.

Uma ideia estética, no limite. É finalmente o que mais impressiona neste Filho de Deus que não passa de um tristíssimo enteado dos deuses cinematográficos: a sua completa cegueira aos dois mil anos de trabalho que a arte ocidental leva sobre a representação destas figuras e destas histórias. Apenas uma inóspita fealdade, o nulo total, caso para dizer, com propriedade, que eles não sabem o que fazem.

Nota: 9/20

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