Este ano visitei a VIVA Technology, uma conferência dedicada à inovação e às startups que se realiza anualmente em Paris, na Expo Porte de Versailles. Esta foi a 4ª edição desta conferência que se iniciou em 2016, como resposta à Websummit (que terá a sua 11ª edição este ano) e decorreu entre 16 e 18 de maio, tendo sido a maior edição de sempre.
Os primeiros dois dias do evento foram dedicados a startups, investidores e profissionais. O terceiro dia foi aberto a estudantes e ao público em geral (bilhete com custo entre 10€ a 20€).
Conferências e Oradores
A oferta de conferências foi vasta, abordando temas como o futuro das cidades, da mobilidade, da energia, da medicina e da indústria.
Relativamente às tecnologias, destaque para a tão famigerada inteligência artificial, a internet das coisas (IoT), as novas redes de comunicações 5G, drones e blockchain.
Pelo palco principal passaram figuras como Emmanuel Macron (presidente de França, que aproveitou para defender as suas políticas de incentivo às startups), Margrethe Vestager (Comissária Europeia para a Competitividade), Ginni Rometty (CEO IBM), Jimmy Walles (Fundador da Wikipedia) entre muitos outros.
Visitas Guiadas
Uma novidade que considerei interessante foi as “visitas guiadas”. Isto faz todo o sentido uma vez que, com tanto a acontecer em simultâneo, é difícil saber por onde começar e quais os locais a não perder. E é interessante porque a visita guiada não é um “extra”, isto é, embora opcional, o horário da visita é escolhido durante o registo e emissão do bilhete.
Por outro lado, as visitas são personalizadas. Cada um dos parceiros (grandes empresas) do VIVA tem direito a uma visita que percorre o espaço, destaca os principais temas/atrações ao longo do recinto e termina no seu espaço (que são chamados de “laboratórios”).
AfricaTech
Um dos sub-programas que achei curioso foi o AfricaTech, um conjunto de iniciativas relacionadas com a tecnologia que se tem vindo a desenvolver em África, sobretudo nas ex-colónias Francesas. Estiveram presentes empresários, investidores e mais de 100 startups do ecossistema tecnológico do continente africano. Foram ainda convidados para uma mesa redonda os presidentes do Ruanda e no Senegal.
Uma espécie de WebSummit?
Sim. É inevitável a comparação da VIVA com a WebSummit. Embora sejam eventos distintos, ambos partilham um foco comum: a popularidade das startups como veículo de desenvolvimento de inovação.
O Espaço onde se realizou a VIVA (Pavilhões 1 e 2 da Paris Expo) é ligeiramente maior do que o do WebSummit (Pavilhões 1 a 4 da FIL + Sala Tejo + Pavilhão Portugal) e a densidade de ocupação do VIVA também ligeiramente superior. Nesta edição de 2019, o VIVA tinha uma área com cerca de 67.000m2, enquanto que o Web Summit rondou os 50.000m2 na edição de 2018. Contudo, quando comparamos o palco principal, não há qualquer dúvida: o Dôme de Paris tem 4600 lugares, contra os 20.000 do Altice Arena.
Quantos aos conteúdos, a maioria das palestras do VIVA estavam distribuídas pelos espaços dos parceiros. No programa oficial era possível consultar as diversas palestras. No WebSummit, embora haja parceiros com agenda própria, não é essa a regra: o programa está distribuído por 24 sub-conferências (cada sub-conferência dispõe de um espaço próprio).
O número de empresas de grande dimensão é muito superior no VIVA (foco mais corporate). No que diz respeito às startups, no Websummit a esmagadora maioria destas tem direito a um pequeno espaço durante um dia numa área agregada por tipo de tecnologia ou setor de mercado. Por exemplo, todas as startups relacionadas com a Internet of Things (IoT) estão “concentras” numa determinada área e as startups dirigidas à saúde estão noutra. E estes espaços circundam os vários espaços destinados às várias sub-conferências Websummit dedicadas as setores diferentes.
Já no VIVA, as startups são “alojadas” no espaço de uma empresa parceira do evento, como por exemplo a AWS, Google, Orange, VINCI Energies (onde eu trabalho). Trata-se de uma diferença fundamental uma vez que, de certa forma, isto funciona como um “apoio” à startup, validando a sua relevância.
Por exemplo, no espaço da VINCI estavam presentes 52 startups que foram convidadas porque as suas proposta de valor estão relacionada com as nossas atividades (transformação digital, transição de energia, o futuro da indústria e o mundo em tempo real).
Por mim, no que diz respeito à origem das startups presentes no VIVA Technology, eram sobretudo francesas, o que contrasta com a diversidade internacional da WebSummit.
Em Síntese
O VIVA teve com um crescimento formidável nos últimos quatro anos. Numa palavra, descreve-lo-ia como “energético” e um concorrente em ascensão do WebSummit.
O “acolhimento” das startups em espaços de grandes empresas é uma abordagem interessante porque as permite credibilizar e o uso de “visitas guiadas” é inteligente para orientar e focar os visitantes no meio de tanto a acontecer.
Tive oportunidade de conhecer startups muito bem preparadas, com propostas de valor estruturadas e elevado potencial. Ficou apenas a sensação de que a maioria das startups estavam focadas em França. Estou seguro que isso irá mudar nas próximas edições.